domingo, 14 de março de 2010

DICAS PARA MACHOS ESCLARECIDOS: APRENDAM A DANÇAR!*

* Livremente inspirado no texto de Isaías Camanducaia

É difícil não cair em clichês ao discorrer sobre um tema tão recorrente: o preconceito que inacreditavelmente ainda existe quanto à presença masculina no mundo dançante (leia-se: “dançar é coisa de boiola”). Pois o texto que inspirou essa reportagem afirma justamente o contrário: dançar a dois faz o homem mais homem.
É verdade!, repito em coro com várias mulheres nos bailes por aí. A dança agrega tantos aspectos além dos passos e da técnica, que só mesmo sendo muito homem para dançar. O professor e coreógrafo Jaime Arôxa repete há anos uma mesma frase a cada turma que se inicia em sua escola: “Há duas datas muito importantes na vida de uma pessoa. Uma é o dia em que ela nasce, a outra é o dia em que ela aprende a dançar.” Aliás, aprende-se muito mais do que dança nas salas de aula. O homem aprende a ser gentil; a fazer a parte dele sem esquecer que existe uma dama em seus braços; ele eleva sua auto-estima, desenvolve sua sensualidade e seu poder de sedução. Resultado: torna-se um homem muito mais interessante.
Os homens também aprendem a ser mais confiantes. Digo isso em dois aspectos. Ele aprende a confiar mais em si mesmo, a atravessar o salão e tirar aquela mulher deslumbrante pra dançar sem medo de levar um não. E depois, aprende a passar essa confiança pra ela, executando os passos com convicção, conduzindo com firmeza. Não há mulher que resista a isso.
A dança encurta algumas etapas no processo de aproximação entre um homem e uma mulher. Alguns “pseudo-machões” passam a noite inteira em boates gastando toda a sua lábia em tentativas, muitas vezes frustradas, de aproximação. Enquanto que mulheres passam a noite inteira trocando olhares com aquele “gato”, e só. Do outro lado da cidade, em um baile animadíssimo de dança de salão, um cavalheiro estende a mão, insinuando um convite a dançar e puf!, como num passe de mágica, a mulher está em seus braços. É um envolvimento consentido. Os dois se tocam, se olham, se abraçam, dançam! E nem precisa passar disso.
Conversando com um aluno de dança de salão de uma escola do Rio de Janeiro, ouvi que, hoje, com 32 anos, o que ele mais queria é ter começado a aprender a dançar com uns 17. Mas infelizmente, os rapazes de 17 só se dão conta disso depois que passaram dos 30... Com raríssimas exceções. Perceber-se um ser dançante é uma das descobertas mais urgentes que os homens deveriam fazer. A convivência com um público adulto, em sua maior parte, e a proximidade constante com as mulheres ajudam os homens a amadurecerem. Mais que isso: os ajuda a desenvolver sua sensibilidade, educação e respeito. E as mulheres, por sua vez, resgatam sua essência feminina: cheias de delicadeza, charme e entrega.
A dança enfatiza a polaridade masculino/feminino e resgata o que há de mais primitivo nos homens e nas mulheres. Gustavo Gitti, aluno de dança de salão de uma escola de São Paulo, escreve em seu blog que “Nas aulas, os homens são ensinados a conduzir, a ter pegada, a serem... homens. E as mulheres são instruídas a serem conduzidas, a se deixarem levar, se entregarem e serem... mulheres.”. Ele conta ainda sobre como se sentia quando ainda não dançava e saía com sua ex-namorada, forrozeira de carteirinha: “Eu ficava nervoso sempre que tocava forró e eu era confrontado com minha impotência e incapacidade de levar minha parceira a um orgasmo dançante, público, só com giros, conduções e pegadas. Impedi-la de dançar com outro era uma opção covarde, deixá-la dançar sob meus olhos era sofrimento demais... Enfim, não me restou outra alternativa a não ser virar homem e me tornar capaz de oferecer aquilo que uma mulher tanto deseja: se sentir mulher. Às vezes, um homem só faz isso na cama. Nestes casos, a dança de salão, não tenho dúvidas, ajuda a manter essa postura na vida, em cada gesto, em cada olhar.” Concordo com Gustavo: o que a gente aprende na dança são lições que devemos aplicar em todos os aspectos da nossa vida, desde a preocupação com a higiene pessoal e apresentação até cavalheirismo e cordialidade.
Como diria a escritora gaúcha Martha Medeiros: “Dançar é tão bom que nem precisava servir pra nada, mas serve”.

Esse texto foi uma reportagem que fiz para o jornal Falando de Dança e saiu na edição de abril/2009.

3 comentários:

  1. Gostei muito e concordo. Sou um adepto da dança de salão e se eu soubesse já teria começado há anos. Warley Lima

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  2. Caramba Ju, há tempos que eu procurava algum texto tão limpo e objetivo que falasse de dança sem cair no lugar comum de que "dança é a linguagem oculta da alma" ou derivados.
    Eu adorei!
    Beijos,
    Leandro Marques

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